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OPINIÃO: Evas e Yaras

Semana passada eu conheci duas meninas, ou quatro, que me (ou nos) ensinam como o mundo é diverso, plural. Que as diferenças culturais não significam pior ou melhor, apenas são diferentes. Eva é uma garota de 5 ou 6 anos que são duas. Uma vive num campo de refugiados numa cidade da África. Busca água no poço, senta em roda com os colegas para ouvir histórias do avô, sua mãe precisa colocar lenha no fogão para fazer a comida, mas antes precisa pilar a farinha. Eva e os coleguinhas juntam materiais e constroem carrinho, bicicletas e brincam, sobem nas mangueiras, brincam como crianças. A outra Eva vive numa cidade da Europa, vai à escola, tem um caderno bonito, tira sua comida do micro-ondas, tem uma bicicleta, ouve as histórias a partir do seu tablet. Mundos aparentemente diferentes, ou diversos.

Também conheci a Yara e a Iara. A primeira vive numa tribo Kaiapó, no café da manhã come peixe que o pai pescou no rio, farinha que a mãe preparou e açaí que o irmão buscou no alto da palmeira. Yara brinca na mata com os amiguinhos, conhece os segredos da floresta apesar da idade e se diverte nas águas do rio e nos galhos das árvores. Do outro lado do Rio, na cidade, vive Iara, come cereais no café da manhã, estuda numa escola em que a professora usa um quadro interativo para ensinar geografia e aí conhece a onça- -pintada, o jacaré, tudo por meio de uma telinha. Brinca no parquinho, no videogame. Duas Iaras ou duas Yaras. São crianças, brincam como crianças, olham o mundo como crianças, leem o seu mundo como crianças.

As duas histórias fazem parte de livros infanto-juvenis de uma escritora portuguesa, Margarida Botelho. Ela vivenciou o cotidiano num campo de refugiados conhecendo Eva; e também numa aldeia indígena da etnia kayapó, no Brasil, onde conheceu Yara. Não cabe comparações, são culturas diferentes, mas o mesmo olhar infantil das crianças para seus mundos. Emocionei-me com as histórias porque vão além, porque te envolvem na vida real das meninas sem julgamentos de pior ou melhor. O tablet não é melhor do que a floresta nem pior. As vivências são diferentes, e ponto.

As formas de se relacionar com o mundo são diferentes e ricas. Uma leitura de mundo que comove, que nos move para lugares que não são comuns para nós, e são ricos em cultura, em vida. Além das histórias, os livros são construídos por meio de fotos e montagens que se transformam em ilustrações encantadoras, uma obra de arte à parte. E mais uma vez, a leitura. A leitura que nos transforma, que é tão importante. A vida e a leitura têm uma relação e é nesta relação que forma o sentido. A leitura precisa fazer sentido para o leitor e, aí, começa a transformação.

Fiquei emocionada. Emoção é ficar com aquilo na cabeça, trabalhando meus sentimentos, meus afetos e aquilo tudo vai me transformando, muitas vezes em outra pessoa, melhor, mais humana, mais consciente do mundo e do meu papel nele. Eva e Yara vão seguir comigo, na forma de olhar o mundo, o delas e o meu, que não são diferentes, mas expõem a diversidade de um mundo plural e que se completam. Há sempre um encontro! Sempre.

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